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“Eu sou uma sobrevivente”

Da infância à ALESP, Erika Hilton fala sobre a candidatura a vereadora em São Paulo e reflete sobre política representativa, morte, prostituição e família

por Vanessa Oliveira Atualizado em 14 nov 2020, 12h09 - Publicado em 13 nov 2020 01h27
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(Clube Lambada/Ilustração)

speramos Erika Hilton, ou Erika Santos Silva, por algumas horas no estúdio do fotógrafo Renato Nascimento, no centro de São Paulo. A entrevista estava marcada para o meio-dia, mas o encanamento do apartamento em que Erika mora entupiu e ela ficou presa na função até às 13h. Tudo bem. Almoçamos, buscamos café e testamos a luz para a sessão de fotos. Erika chegou por volta das 15h, angustiada pelo atraso. Entre saudações efusivas, um cigarro, um papo sobre a prótese mamária recém-colocada, café e um pedaço de brownie, começamos por um “Quem é você?” básico. E ela se colocou entre a militância, a intelectualidade e a representatividade, com um destaque ligeiro mas não menos importante para o que define como uma confusão astrológica: “Sou sagitariana, tenho ascendente em aquário e lua em gêmeos”.

Mas, acima de tudo, a ex-co-deputada pela Mandata Ativista (PSOL) – formada como Bancada Ativista, em 2016 – e hoje candidata a vereadora pelo mesmo partido se define como uma sobrevivente: “A morte se apresentou pra mim de várias maneiras; estando em lugares que foram invadidos ou em esquinas onde outras companheiras morreram. Enfim, eu tenho 27 anos e vi muita gente morrer. Então, eu sou uma sobrevivente”.

Com raízes na Bahia, a família toda de Erika é de Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo. Filha única até os oito anos de idade, ela conta ter sido uma criança livre, feliz e até privilegiada, rodeada pela mãe, tias e avó, todas empregadas domésticas, todas “muito pra frente”, como ela mesma diz. Dentro de casa, nunca foi um problema que Erika, nascida como o que a sociedade entende ser um menino, se divertisse sobre sapatos de salto alto, de toalha enrolada na cabeça, imitando a performática diva mexicana Paola Bracho, da novela A Usurpadora. “Minha mãe me criou em uma redoma. Ela sempre soube que existia uma coisa em mim ‘diferente’ das outras crianças. Eu era uma criança trans ensinada dentro dessa noção binária, uma menina que agia como menina e era tratada como menina. E isso nunca foi um problema. Minha avó, meus tios e tias sempre viram… e isso era extremamente normal. Elas só não me deixavam ir pra rua, pra evitar que eu fosse hostilizada pelas pessoas.”


“Minha mãe me criou em uma redoma. Ela sempre soube que existia uma coisa em mim ‘diferente’ das outras crianças. Eu era uma criança trans ensinada dentro dessa noção binária, uma menina que agia como menina e era tratada como menina”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Infelizmente, esse ambiente de tolerância não durou para sempre. Ele começou a ruir sob o peso da religião, quando Erika entrava na pré-adolescência. Apesar do câmbio ao seu redor, ela se concentrava na própria sexualidade: “Eu não tinha toda a narrativa que as adolescentes e crianças LGBTs têm hoje, de saber que existem pessoas trans e travestis. Apesar de só ter 27 anos, a referência travesti que eu tinha era a da Roberta Close, sendo caricata na banheira do Gugu, ou as transformistas, como eram chamadas as travestis que participavam do programa do Silvio Santos.” Sem ter em quem se espelhar, a solução que Erika encontrou foi assumir-se gay para a mãe, cada vez mais evangélica.

A surpreendente solução de sua mãe foi enviar a filha para viver em Itu, sob os cuidados de parentes, todos fiéis fervorosos da Congregação Cristã no Brasil. Sob pressão, Erika tentou “se corrigir”: “Aconteceu uma lavagem cerebral. Eu era obrigada a ir para a igreja. Não só ir, mas também repetir em casa tudo que eu ouvia lá. Logo depois, minha mãe foi pra Itu, eu me batizei na Congregação e aconteceu um processo de expurgo. Eu virei uma grande profeta, ia orar na casa das irmãs, falava em línguas, orava nas pessoas, pregava e andava de terno e gravata. Isso durou quase dois anos.”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Família de sangue, família da rua

Apesar do esforço de adequação, a relação com a família em Itu se desgastou ao ponto da ruptura, e Erika foi viver novamente com a mãe; desta vez num apartamento do CDHU. O ambiente não tinha nada a ver com a calmaria do Jardim Aeroporto, em Itu: “Eram os corpos dos drogados, das travestis, das bichas. E quando eu voltei a me conectar com essa sociedade, voltei a me perceber, a me sentir Erika de novo, e pensei: alguma coisa tá errada!” Entre a Bíblia e a identidade, a última venceu.

Mas desistir da igreja significou entrar em uma guerra com a mãe. Sem saber o que fazer e pressionada pelo peso da culpa que lhe imputavam – “você deixou ela usar salto, você não bateu!” –, a mãe tomou uma decisão drástica: expulsou Erika de casa, atirando todas as suas coisas no pátio do prédio. Hoje, olhando para trás, Erika não guarda rancor; encara a mãe como mais uma vítima do preconceito: “A transfobia é muito perversa e pune todo mundo. Por isso, não gosto quando as pessoas pegam trechos da minha história e tentam culpar a minha mãe. Acho injusto porque foi ela que me sustentou, voltou a me ajudar quando eu estava na universidade e me deu abrigo enquanto eu não tinha. Ela percebeu que estava errada, que aquilo não era certo, que não era Deus e logo voltou atrás e me resgatou. Foi breve, mas pra mim esse intervalo durou trocentos anos.”


“A transfobia é muito perversa e pune todo mundo. Não gosto quando as pessoas pegam trechos da minha história e tentam culpar a minha mãe. Acho injusto porque foi ela que me sustentou, me deu abrigo enquanto eu não tinha”

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Dizem que o sofrimento alarga o tempo. E esse, de fato, não foi um período fácil: “Dormi na rua, passei por casas de cafetinas e me prostitui a adolescência inteira. Acabei me envolvendo em um relacionamento extremamente violento, tóxico e abusivo em que eu me prostituía inclusive para sustentar o vício do meu parceiro em crack. Ele chegou a ficar preso por um ano por conta de um roubo e eu fiquei durante todo esse ano em porta de cadeia sendo humilhada. Não faltei um domingo sequer! Mas eu fiz tudo isso porque ele foi o primeiro homem que amei. Quando comecei a minha vida sexual/amorosa, o que eu tive foi a rua”.

Erika viveu essa realidade dos 15 aos 16 anos e, dessa experiência, traz uma importante reflexão sobre a prostituição infanto-juvenil e a consequente pedofilia. “O que me fazia ganhar dinheiro era o fetiche das ‘mariconas’ [como são chamados os homens que fazem programas com travestis] em poder dominar aquele corpo jovem e frágil. As meninas vão para a pista aos 12, 13 anos e, sendo muito nova, você ganha muito dinheiro. Você não precisa entregar tudo que elas [as outras travestis da rua] falam que você precisa entregar, que são pinto, peito e silicone. É a sua idade, a sua fragilidade e inocência… Eles pagam pela sua infância. É isso que acontece em uma sociedade regida pela cultura do estupro, em que as pessoas trans não são gente. E eu vivi isso.”

Hoje, referência negra e trans, a candidata Erika faz da desumanização das comunidades trans e travesti uma bandeira de luta: “Eu não sou uma coitada, eu sou uma expressão do que é o sistema racista, classista e transfóbico. Tá aqui no meu corpo e ninguém vai apagar.” Mas na época da rua, tudo era incerto: “Naquele momento, não sabia que eu era uma mulher. Eu era uma travesti, e travesti não é mulher; travesti é travesti. Travesti não sai na rua de dia, não tem namorado, não beija na boca, não anda na rua de mãos dadas, não espera nada de ninguém. Até eu descobrir que eu era uma mulher travesti, foram muitos processos.” Árduos a ponto de ela mesma precisar encará-los de fora para dentro: “Quando eu deito, quando ligo para minha avó, tudo vem como um tsunami. E quando conto a minha história, me distancio dela pra poder contá-la, senão eu não sobrevivo”.

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“Eu não sou uma coitada, eu sou uma expressão do que é o sistema racista, classista e transfóbico. Tá aqui no meu corpo e ninguém vai apagar”

Passado o período de terror – e amadurecimento – entre a rua e relacionamentos turbulentos, Erika foi recebida de volta na casa da mãe, dessa vez na cidade universitária de São Carlos, interior de São Paulo. Lá, ela retomou os estudos, redescobriu a militância. Parênteses: seu primeiro contato com a luta política foi ainda em Itu: “Muito sagitariana, eu queria fazer história em Itu. Então, minha militância e ativismo começam quando eu requeiro o uso do meu nome social na época no transporte escolar”. Depois de concluir o ensino médio, Erika entrou no cursinho pré-vestibular e no movimento estudantil, passou em pedagogia na UFSCAR, migrou para a gerontologia, encontrou empoderamento nos textos de Daniela Andrade, se apaixonou por um homem trans, entendeu-se negra. Em suma, é nesse período que de fato nasce, carregada de cicatrizes, a militante política afro-transexual Erika Hilton.

Curiosamente, enquanto falamos disso, nossa entrevista é interrompida para que Erika participe de uma reunião online com outra referência dessas mesmas duas comunidades: a deputada estadual Erica Malunguinho, que junto com sua Mandata Quilombo, está apoiando várias candidaturas negras, trans e feministas.

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Funciona ou não funciona: o desafio dos mandatos coletivos

Terminada a reunião, fazemos um brusco, mas inevitável, corte para o presente. Por que, em meio à explosão de candidaturas coletivas, Erika resolveu se candidatar sozinha? Ela explica a decisão com base na sua experiência dentro do primeiro mandato coletivo vitorioso no Brasil, a Bancada Ativista, que, por conta das divergências entre o mandato e o coletivo que viabilizou a ideia, foi rebatizado de Mandata Ativista.

Para Erika que, embora jovem, tem uma longa estrada de militância e vivências, a Bancada errou ao misturar perspectivas de classe muito distintas dentro de um mesmo espaço institucional, o que facilitou a reprodução de opressões sistêmicas. “Seria irresponsável eu dizer que endosso o que aconteceu com a Bancada Ativista. Eu acredito que os mandatos coletivos podem ser potentes quando as pessoas estão alinhadas ideologicamente, quando elas têm os mesmos propósitos e a mesma visão de mundo. Agora, não dá pra pegar mulheres brancas neoliberais do Alto de Pinheiros, colocá-las com indígenas e travestis, mulheres que vieram da rua e achar que dá pra fazer uma política progressista anti-capitalista que atenda aos interesses das classes mais baixas. A Bancada Ativista saiu pincelando pessoas de lugares e trajetórias diferentes, colocando todas para pensar política e isso nunca iria dar certo.”

“Acredito que os mandatos coletivos podem ser potentes quando as pessoas estão alinhadas ideologicamente. Não dá pra pegar mulheres brancas neoliberais colocá-las com indígenas e travestis e achar que dá pra fazer uma política progressista anti-capitalista”

Erika reforça que os interesses individuais e a inexistência de uma posição política inequivocamente antirracista e anti-LGBTfóbica acabaram impossibilitando uma ação coletiva à altura da proposta inicial. “Minha pauta estava espremida dentro de um mandato. E a política que eu construo não pode ser uma política de negociação. Não se negocia a vida, a fome, a moradia, a falta de emprego e de transporte. As pessoas se comprometeram com suas comunidades, com seus grupos e depois tiveram que se matar para propor um projeto, uma emenda. O tempo inteiro a branquitude e cisgeneridade tentaram espremer e matar as nossas pautas e só não mataram porque é isso… a gente brigou a vida inteira e não vamos morrer aqui nem agora.”

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Neste ano, o coletivo que idealizou a ocupação coletiva da cadeira legislativa na ALESP está fortalecendo várias candidaturas individuais, um movimento chamado Reviravolta. A ideia é construir uma agenda comum para enfrentar o conservadorismo da Câmara. Erika é uma das candidaturas apoiadas ao lado de Carmen Silva (PT), Adriana Vasconcellos (PCdoB), Raquel Marques (Rede), Samuel Emílio (PSB) e Todd Tomorrow (PDT).

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O corpo negro e trans como mercadoria eleitoral

As eleições de 2020 já são um marco na história brasileira: recorde de participação feminina, crescimento de 46% das candidaturas indígenas – seis delas a prefeituras – e, pela primeira vez, maioria de candidaturas negras, o que compreende pessoas pretas e pardas, de acordo com classificação do IBGE. Mas os números, embora motivo de comemoração do ponto de vista da representatividade, precisam ser analisados para que a representação signifique de fato poder, autonomia e, consequentemente, mudança.  

E é neste ponto que Erika bate, chamando atenção para a comercialização da imagem negra, trans e periférica nas eleições, como forma de validar candidatas e candidatos brancos, cis, ricos ou de classe média, que têm perdido espaço no campo progressista. Como exemplo dessa captura, ela cita a chapa coletiva feminista do PSOL: “é isso que tem acontecido na Bancada Feminista do PSOL, por exemplo: uma narrativa preta, com corpos trans, para vender um modelo de inovação, um modelo ideal… mas não dá mais pra permitir que a branquitude e a cisgeneridade usem as pessoas negras e trans de token. É uma candidatura que induz ao erro.”

Neste cenário, para ela, o problema não é individual, mas estrutural. “O capitalismo alimenta o ego, tudo é sobre o eu. O socialismo não é sobre o eu e as pessoas ainda não estão prontas pra pensar no coletivo, principalmente as que nunca moraram na rua, que não passaram fome, nunca tiveram que dividir nada. Elas não sabem e nem estão dispostas a pensar em fazer de forma compartilhada. Mas já entenderam que a narrativa vende.”

“O capitalismo alimenta o ego, tudo é sobre o eu. O socialismo não é sobre o eu e as pessoas ainda não estão prontas pra pensar no coletivo. Elas não sabem e nem estão dispostas a fazer de forma compartilhada. Mas já entenderam que a narrativa vende”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Para Erika, existe uma tentativa de um grupo privilegiado de se validar a partir de corpos e trajetórias marginalizadas, em um esforço para garantir a manutenção de velhos espaços de poder. “Nós estamos aqui falando de eleger mulheres pretas, travestis, mulheres que vieram da periferia. E a gente quer mesmo que várias delas entrem, porque eu não vou fazer política sozinha. Mas a gente não quer ver mulheres negras e travestis serem a vitrine que vai esconder as mulheres brancas de classe média. Isso é muito perigoso. E não é um ataque gratuito; é um alerta.”

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Vem aí, o “grande rebuceteio”

Perguntada sobre como será seu futuro gabinete, Erika pisa no freio e diz que está combatendo com força a ideia de que já está eleita, porque isso pode desmobilizar o eleitorado. ‘Não estou eleita, estou em campanha.”, reforça.

Mas com um pouco de insistência, ela solta: “meu gabinete será um grande rebuceteio, porque vai ser a junção e a união dessas corpas. Vai ter essas travestis, esse povo preto. E a gente não vai se permitir adequar às normas daquele lugar. Eu já fui higienizada o suficiente para estar ali e foi importante para eu saber onde chegar, mas a gente tem limite na higienização e não vai ceder à estrutura. A estrutura é que vai ter que aprender a lidar com nosso modo de falar, de gritar, de vestir, de andar… e não estou nem falando de mim, porque eu ainda sou super confortável aos olhos do sistema. Assim, de boquinha calada, eu não incomodo ninguém, mas eu vou trazer corpos que incomodam muito. E é isso, precisamos criar um novo marco.”


“Meu gabinete será um grande rebuceteio, porque vai ser a junção e a união dessas corpas. Vai ter essas travestis, esse povo preto. E a gente não vai se permitir adequar às normas daquele lugar”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Esse marco, além de político, tem de ser simbólico. “Quero criar o prêmio Carolina Maria de Jesus para as mulheres catadoras. São Paulo precisa valorizar e reconhecer a história dessa mulher, que foi poeta, antropóloga, socióloga, historiadora. E ela era tudo e era analfabeta, escrevia do jeitinho dela e sofreu nessas ruas. Nós temos várias outras Carolinas que precisam ser reconhecidas. É assim que eu penso esse gabinete, fazendo e reconhecendo nossas histórias, porque nossos passos não começaram agora, eles vêm de longe. Vamos pensar a criação de leis e políticas públicas entrelaçando com o reconhecimento das nossas histórias e um dos primeiros passos é esse, homenagear as catadoras.”

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A inspiração vem das catadoras, das ruas, das travestis, das prostitutas e também de potências como Lélia Gonzalez, Marielle Franco, Angela Davis, Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera. “São essas mulheres que me inspiram a lutar, foram essas mulheres que disseram: não desistam! Ou seja, isso tudo não começa em mim e não termina em mim. Começa lá atrás, com várias outras e eu sou a continuidade disso. Eu quero afrontar o sistema!

Ela sabe dos riscos que “afrontar o sistema” acarretam a alguém com seu corpo, sua pele e sua história. E, talvez por isso, a iminência da morte seja presença ruidosa em sua fala: “pode ser que eu não esteja viva para ver a transformação que vai acontecer. Pode ser que eu morra ou seja morta, mas eu tenho certeza de que eu fiz parte de uma história e que ela vai dar frutos. Eu levanto todos os dias tendo certeza absoluta de que pode demorar 300, 400, 500 anos, mas isso vai reverberar. O sistema não vai ceder assim, ele não cai assim, não é só colocar uma travesti, não é uma mulher preta que morre… vai levar tempo mas eu tenho certeza que se eu não for interrompida antes, eu vou ver muita coisa.”


“Pode ser que eu não esteja viva para ver a transformação que vai acontecer. Pode ser que eu morra ou seja morta, mas eu tenho certeza de que fiz parte de uma história e que ela vai dar frutos”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Não é “natural” a opressão de pessoas trans, é fruto de vontade política, de preconceito, de crueldade, de projeções de desejos reprimidos. É uma invenção humana. E como qualquer invenção humana, pode ser revertida, desinventada: “É possível romper com as taxas de 90% de prostituição, é possível romper com a taxa de mortalidade de 35 anos de idade, é possível romper com a Cracolândia, com as moradoras em situação de rua, com estupro, com a falta de afeto de religião, de Estado, de família, é possível. Como eu disse, eu sou uma sobrevivente e não vai ser nessa política institucional, nesse lugar podre, mesquinho e cafona que eu vou morrer. Eu não vim até aqui pra morrer, eu vim aqui pra fazer história”, lembra Érika.

E assumir essa responsabilidade, para ela, é questão de honra com as que morreram, com as que adoeceram, que não conseguiram espaço na sociedade. “Eu consegui, não porque mereci, mas porque tive família e pessoas ao meu redor. Consegui elaborar isso e transformar numa trajetória e isso fez de mim alguém que realmente tem um compromisso, uma dívida com as minhas.”


“Sou uma sobrevivente e não vai ser nessa política institucional, nesse lugar podre, mesquinho e cafona que eu vou morrer. Eu não vim até aqui pra morrer, eu vim aqui pra fazer história”

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(Renato Nascimento/Fotografia)

Erika Hilton, que conheceu intimamente a marginalização e a morte, avisa que volta “com peito e unha de gel contra o sistema, dizendo: ‘queridos, se preparem, porque vocês não me tombaram lá atrás’. Tem uma série de cicatrizes, mas eu não transformo isso em romance, eu transformo isso em luta. Eu transformo isso em política.”

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Colaborou: Amanda Alencar

As imagens que você viu nessa reportagem foram feitas por Renato Nascimento. Confira mais de seu trabalho aqui

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