presença masculina sempre dominante nas artes plásticas e na arquitetura deixou uma marca muito profunda na sociedade. Sem dúvida alguma, o mundo foi privado de apreciar tantas artistas, nunca reveladas. Um paralelo sutil com a história da arte nos leva visualizar a figura da mulher, marginalizada, e por tanto tempo, restrita à casa.
Houve, no entanto, um período em que elas não eram vistas somente com o intuito de gerar e cuidar. Na Idade Antiga, as sumérias desempenhavam papéis em atividades econômicas e políticas tal qual os homens. Já os egípcios não faziam distinção entre os sexos, exaltando deusas e rainhas.
Mas levaram séculos para que a inteligência e o talento femininos ganhassem voz para novamente ecoar na sociedade. Na arte, essa premissa vem aos poucos se revelando com mais nitidez. “Foi somente a partir do século 19 que artistas femininas tiveram oportunidade de expor em espaços públicos, já que museus não as permitiam entrar, assim como proibidas de frequentar Academias”, comenta Monica Fokkelman, formada pela Universidad Complutense de Madrid e hoje uma das mais respeitadas Historiadores de Arte na Áustria.
O Albertina Modern, aberto há três meses em Viena, não apenas joga luz a uma época marcada por tabu e repressão, como quebra a hegemonia masculina. “Fizemos questão de exibir produções artísticas cheias de crítica e auto-reflexão idealizadas por mulheres pivotais para o mundo da arte”, afirma Angela Stief, curadora da mostra inaugurativa “The Beginning”, que faz um sensível apanhado de obras entre 1945 e 1980. Ao menos 30% dessa coleção é de autoria feminina.
Concebido como um dos maiores museus de arte contemporânea do mundo – são mais de 60 mil trabalhos de cinco mil artistas -, o Albertina Modern exibe publicamente, pela primeira vez, o mais amplo acervo de quadros, esculturas, documentos e performances do período pós-guerra. Dedica, inclusive, espaços individuais para algumas artistas de grande destaque no século 20, como as austríacas VALIE EXPORT e Maria Lassnig.
A primeira, que aos 27 anos renunciou o nome de família atribuindo-se uma nova identidade (EXPORT, inspirada numa marca de cigarros), foi uma das mais radicais nas décadas de 1960 e 1970. Suas performances e vídeos usavam de seu próprio corpo como material central, de forma provocativa, questionando como mulheres eram tratadas. Em uma delas, VALIE caminhava pelas ruas com parte do corpo coberto por isopor e um véu, incitando passantes a tocarem em seus seios nus. Hoje, com 80 anos, está nos bastidores da instituição que carrega seu nome e detém um inestimável acervo.