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O CBD, antioxidante poderoso que vem da maconha, ainda é tabu na indústria brasileira de beleza

por Giuliana Mesquita Atualizado em 19 jun 2020, 12h09 - Publicado em 16 jun 2020 09h47
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(Clube Lambada/Ilustração)

egalizado para venda e importação no Brasil desde janeiro deste ano, o CBD ainda parece ser um assunto tabu no país – principalmente na indústria de cosméticos. Ainda que comprovadamente eficaz, produtos-hit de várias marcas não têm previsão de chegada ao Brasil.

Essa reportagem fica ainda mais gostosa de ler se você passar um creminho no rosto e apertar o play:

Antes de nos debruçarmos nesse assunto, voltemos a 1998, para o dia em que policiais franceses invadiram uma loja da The Body Shop em Aix-en-Provence, na França, para apreender os produtos feitos à base de cânhamo comercializados pela marca de produtos de pele. “Nossa fundadora e ativista Anita Roddick se recusou a se esquivar do estigma desse ingrediente”, conta Diego Ortiz De Zevallos, diretor global de desenvolvimento da marca. Vinte e dois anos se passaram e parece que nada mudou – a nomenclatura ainda assusta. Apesar de o CBD ser o componente da maconha que não tem índices psicoativos relevantes, as grandes marcas e lojas de beleza ainda não estudam trazer seus produtos à base de canabidiol ao Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa, a história é outra. O site da Sephora norte-americana, por exemplo, conta atualmente com cerca de trinta produtos à base de CBD em seu catálogo. Vale pontuar, no entanto, que muitas das marcas que oferecem esse tipo de produto não estão disponíveis no Brasil. O escritório brasileiro da loja não quis responder ao pedido de entrevista sobre o assunto.

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Mas o que o CBD faz de tão inovador assim para a pele? Segundo estudos, o óleo extraído da maconha tem alto poder antioxidante e antiinflamatório, anti-acne e anti-bactericida, além de apresentar vitaminas A, B, D e E. “Essa substância pode ser usada tanto para fins de rejuvenescimento quanto para alergia e acne, por diminuir o processo inflamatório cutâneo”, explica o dermatologista Dr. Alberto Cordeiro.

“Agora, os produtos podem ser comercializados no Brasil e o uso será ampliado não só para a pele, mas também para outras áreas da medicina, por ter um efeito relaxante”, continua o dermatologista. Amenizar crises de epilepsia, auxiliar nos tratamentos de câncer, ajudar pacientes com enxaqueca e insônia: esses são alguns dos efeitos conhecidos da planta. Para a pele, ainda segundo o Dr. Alberto Cordeiro, alguns estudos feitos em animais comprovam a melhor eficiência do CBD em relação à vitamina C e ao Resveratrol no que diz respeito à antioxidação, apesar de ainda não existirem testes em pele humana.

“Agora, os produtos podem ser comercializados no Brasil e o uso será ampliado não só para a pele, mas também para outras áreas da medicina, por ter um efeito relaxante”

Alberto Cordeiro, dermatologista
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(Bárbara Malagoli/Ilustração)
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(Bárbara Malagoli/Ilustração)

Benefícios para a pele

Esse é o principal motivo desses produtos serem um sucesso. A Milk Makeup, marca cult norte-americana de beleza, conta com dois produtos na categoria: uma máscara para a pele e uma máscara de cílios. A Avon, queridinha popular no Brasil, acaba de lançar seu primeiro produto com CBD, o Green Goddess, um óleo facial com 99% de origem natural que promete acalmar a pele – mas ainda não há previsão de venda por aqui. Entre as marcas que estão apostando nessa nova onda estão a Kiehl’s e a Lush, que encerraram suas atividades no país antes da mudança da lei. A The Body Shop, da história do começo desta reportagem, ainda vende no Brasil, mas não tem novidades sobre a importação de seus produtos com extrato do óleo da semente de Cânhamo.

Diego Ortiz De Zevallos conta ainda que, por causa de toda a controvérsia em torno de seus produtos em 1998, eles adquiriram um status cult na indústria da beleza e, em 2018, o Hemp Hand Protector vendeu uma unidade a cada 9 segundos. A diferença dos produtos vendidos pela The Body Shop é que, em vez do CBD, a marca usa cânhamo, um similar da cannabis, em seus produtos, ingrediente que ainda não foi legalizado no Brasil. Segundo a marca, a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) está estudando como evoluir o tema dentro da nossa legislação.

No exterior, outras marcas, como Herbivore, Peter Thomas Roth, Origins, Lord Jones e Josie Maran aproveitam a onda do ativo queridinho do momento. Na Sephora gringa, no entanto, há regras exigentes para minar o uso indiscriminado da sigla. Em fevereiro deste ano, a marca lançou sua lista de pré-requisitos para incentivar a regularização – entre elas, estão uma porcentagem relevante de CBD na composição, o selo de produto “limpo” e a exigência de que o canabidiol seja cultivado internamente.

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Por aqui, a Simple Organic, marca brasileira de skincare e maquiagem focada em produtos naturais e orgânicos, planeja seus próximos passos agora que o CBD foi legalizado no Brasil. “A Simple acredita demais no poder da natureza e das plantas em geral. Somos uma marca que trabalha muito o poder de cada planta e, cada vez mais, estamos estudando esse universo medicinal como sugestão para trazer novidades em cosméticos. Existe uma polêmica em volta do ativo, mas ele já é comprovadamente benéfico para a saúde. Sendo assim, a gente tem, sim, interesse, faria o estudo e testes para conhecer mais a atuação do CBD dentro do universo da cosmetologia”, conta Patricia Lima, fundadora da marca.

“Existe uma polêmica em volta do ativo, mas ele já é comprovadamente benéfico para a saúde.”

Patrícia Lima, fundadora da Simple Organic

Após tanta luta a favor da legalização do uso do CBD, porque ainda há resistência no uso, na comercialização e na importação desses produtos ao Brasil? A resposta ainda não está clara – e há apenas uma certeza: há muito amante de skincare querendo se aproveitar dessa onda diferente.Onda diferente

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