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Experiências malucas com sintetizadores

Um dos músicos mais inventivos de sua geração, Gabriel Guerra, dono do selo 40% Foda/Maneiríssimo, fala sobre composições e uma vida caótica

por Artur Tavares 24 nov 2020 01h08
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(Clube Lambada/Ilustração)

abriel Guerra está se divertindo. Músico desde a adolescência, dono das bandas Dorgas e Séculos Apaixonados, ele tem deixado a guitarra de lado nos últimos anos para se dedicar à música eletrônica. Mas, não espere vê-lo tocando para uma pista de dança agitada, no meio da madrugada, com os fritos em transe. Essa não é bem a de Guerrinha – como é conhecido pelos amigos. Dono do selo 40% Foda/Maneiríssimo e nome por trás de projetos como Brasileiro Garantido, Repetentes 2008 e Dinheiro Infinito Revival, o carioca de 28 anos tem tornado em música suas ideias mais loucas. E os fãs, é claro, compram sua piração.

Criado em parceria com Lucas de Paiva, que também tocava no Dorgas e no Séculos Apaixonados, o 40% Foda/Maneiríssimo pode ser considerado um dos selos de música eletrônica mais experimentais do Brasil na atualidade. Embora ame o que faça, Guerrinha transparece que a label é sua maneira de externar suas composições mais piradas, enquanto mantém seu trabalho mais sério compondo trilhas sonoras para a televisão e serve como guitarrista para Clarice Falcão.

Quer exemplos de suas loucuras? Em um de seus discos recentes, “Bolinhas de Queijo”, o compasso da segunda música é marcado por um tossido. Em “Light Lixo”, um peido dá o tom. Já em “Faixas de Ritmo”, as produções são praticamente as mesmas, mas com BPMs (batidas por minuto) diferentes, sendo que uma delas tem um sampler safado do clássico jogo Toejam & Earl, de 1991 – ou, pelo menos, parece ser. Memória afetiva minha ou dele?

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Suas referências (não) são as melhores: além dos MIDIs de jogos da era 16 bits, hip-hop low fi, synth pop bagaceira dos anos 1980, trilhas sonoras de consultórios médicos, aquela música de fundo enquanto o dentista enfia a broca na sua boca. E o pior de tudo? Dá muito certo. Suas composições são viciantes, divertidas, um respiro na seriedade que tomou a cena eletrônica de assalto agora que todo mundo decidiu gostar do rolê.

“Eu me sinto meio alien até hoje”, ele diz na conversa que você confere a partir de agora. Mas, não acredito que seja assim. Para mim, Guerrinha sabe muito bem que sua criatividade é única, então ele subverte conscientemente os conceitos mais rígidos e estabelecidos da música eletrônica em troca de um pouco de diversão. Tirem suas próprias conclusões.

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Você tem uma longa história musical, que vem de muito antes da música eletrônica, com bandas como Dorgas e Séculos Apaixonados. Quando foi que você se descobriu músico?
Eu tinha uns 13 anos, comecei a curtir mais música, e tocava um pouco de guitarra. Havia um portal chamado Trama Virtual, em que você podia pegar músicas suas e upar para as pessoas ouvirem. Era uma coisa muito fácil e apaixonante. Eu ficava criando, pegava o microfone do computador mesmo e gravava meus sons. Era a época do Orkut também, e com as comunidades da rede social, as bandas independentes surgindo, esse sentimento foi crescendo dentro de mim. Anos depois, entrei na faculdade de Sistemas de Informação e odiava, porque só conseguia pensar em fazer música. Depois que saí, montei as bandas. Foi um grande processo obsessivo com a ideia de poder compor, que na verdade é igual até hoje.

E como você saiu da guitarra e caiu na música eletrônica?
Eu tenho uma irmã, chamada Joana, que namorava um cara que era dono de uma festa de música eletrônica em Londres, a Secret Sundays. Era uma coisa de admirar a irmã mais velha maneira. Eu comecei a fuxicar as coisas que ele ouvia e percebi que eram músicas com uma dinâmica muito diferente das que eu ouvia. O som de um sintetizador já era comum para mim, mas a estrutura da música soava muito diferente. Era um vocabulário muito diferente para quem tinha uma banda. E a guitarra nunca me ofereceu tudo que eu procurava. É um instrumento muito limitado. Então, em 2009, ainda no início do Dorgas, comecei a tocar mais teclado para suprir essa frustração.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Sim, porque ter banda deve ser um saco de vez em quando, lidar com pessoas…
É, mas hoje, uma década depois, a mesa virou. Tem vezes que me sinto muito solitário, porque fazer música eletrônica é meio como jogar xadrez com você mesmo. De vez em quando, sinto falta do processo de estar em estúdio com outras pessoas, momentos de ação pura, de improvisação. Mas, com certeza, resolveu muitas coisas que eu sentia como músico. Me lembro, na época do Dorgas, que íamos gravar as coisas não soavam como eu imaginava. E, quando eu estava sozinho, pelo menos tentava aproximar a composição ainda mais da minha visão. Então, invariavelmente a frustração de uma coisa foi levando à outra.

“Tem vezes que me sinto muito solitário, porque fazer música eletrônica é meio como jogar xadrez com você mesmo. De vez em quando, sinto falta do processo de estar em estúdio com outras pessoas, momentos de ação pura, de improvisação”

O que aconteceu com suas bandas?
O Dorgas já acabou faz tempo, e o Séculos parou no ano passado. O Arthurzinho, tecladista, começou a tocar com a Letrux. Eu e o Lucas de Paiva tocamos com a Clarice Falcão, além de mantermos o 40%. O Veloso toca com a Duda Beat, e o Lucas Freire se mudou para São Paulo pra acompanhar o NoPorn. Enfim, era impossível manter. É o destino fatal de todas as bandas, não conseguir juntar todos em uma mesma sala. Agora é meu primeiro momento na vida que não tenho uma banda. É tudo muito novo para mim [risos].

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Desde a época das suas bandas até seus projetos eletrônicos hoje, tudo que você faz tem uma pitada de humor, um tom meio kitsch. Como você se encontrou nesse mundo meio bizarro, peculiar?
Pra mim, no fundo… O mundo em que minha música vive é muito pequeno. Sempre achei engraçado artistas que lidam com tópicos gigantes pra um mundo tão pequeno. O meu bom humor é uma forma de reality check. Ainda assim, nunca quis que fosse uma coisa irônica. Acho que tem um lado bom, porque eu sempre consegui pegar os discos que minha mãe ouvia e gostar, ao mesmo tempo que gostava dos discos que as pessoas da minha idade ouviam também. E, até no bom humor dá pra ter uma coisa meio sombria. Pra mim, sempre teve esse balanço entre o que na superfície soa bem-humorado, mas que está tratando de coisas mais sérias. A comédia é isso, basicamente, e pode ser aplicado na música também.

E isso é muito distinto, e soa ainda mais peculiar no campo eletrônico…
Sim, é ainda mais intenso. Porque a música eletrônica tem essa coisa futurista, a cena é muito feita de tribos. É tudo envolvido em muita seriedade. Então, quando você oferece uma coisa um pouco mais bem-humorada, as pessoas acham que você está de sacanagem. E, na verdade não. É tão sério como qualquer postulação. Pra mim, nunca foi uma forma de gongar quem está falando sério, mas sim de me sentir mais confortável na estética.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Com o crescimento vertiginoso da música eletrônica, como é encontrar seu espaço em meio a uma cena cada vez mais profissionalizada, e que entrou em temáticas e lutas sociais tão sérias?
Eu me sinto meio alien até hoje. É meio que um motivo de orgulho, porque hoje existem essas festas que recebem milhares de pessoas. Nós tocamos em uma Tantsa, em janeiro, e nunca tinha visto nada igual. Eram umas oito mil pessoas reunidas. Quando eu tinha as bandas, conseguir 100 reais no final de um show era motivo de estourar fogos. Hoje, vou tocar, e de vez em quando pago meu aluguel com dinheiro de sets. Pra mim, é muito esquisito esse nível de profissionalismo. É algo que tento evitar ao máximo, porque conheço muita gente que se sacrificou muito para fazer a carreira acontecer, e música é um ambiente muito oscilante. Uma hora você pode estar super hypado, e no outro mês você é um Zé Ninguém. Tento evitar ser muito profissional, prefiro manter uma plenitude, uma relação bem boa com a música. Eu tenho uma teoria de que não existem ex-músicos, e sim músicos frustrados. Então, para mim, é manter essa relação saudável com a música. E, é difícil, porque às vezes você quer dar um grande salto e não consegue. É melhor que as coisas sejam meio fracassadas mesmo.

Como os lançamentos do 40% Foda/Maneiríssimos são recebidos na cena atualmente?
O 40% é um caso meio engraçado, porque nunca esperei que as pessoas curtissem minha música ou as coisas do selo. Principalmente no Rio, onde as coisas não são tão específicas como é aí em São Paulo. Sinto que no Rio é uma coisa meio vale tudo, vale nada. As pessoas aceitam o que vem. Em São Paulo é diferente, mas nunca me olharam torto, embora haja muito mais especificidades dentro do público.

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Com a pandemia, as pessoas começaram a procurar coisas novas, trabalhos mais experimentais, como o seu?
É terrível o que vou dizer, mas nunca se ouviu tanto as coisas do 40% quanto na pandemia. Tem mais gente escutando agora. Porque, no fundo, essas distinções do que é determinado gênero musical são frívolas. Às vezes, o que vai dizer se uma faixa é eletro ou techno é só onde está o bumbo. Até onde isso faz diferença? É só um elemento de ritmo. Acho que as pessoas estão se abrindo mais porque estão percebendo que o mundo vai além das festas. Pra mim, isso é fácil, porque não descobri música eletrônica indo em festa. Não sou um clubber. Mas, a maioria das pessoas que ouvem vêm desse mundo, e por isso estão ganhando essa nova perspectiva de quão ampla é a cena. Como não tem como ir pra festa, acabam indo atrás de mixes, novos discos e artistas. De fato, acho que tem havido uma expansão.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

As pessoas descobriram que têm ouvido apurado, né? Passaram a refletir sobre o que gostam…
Sim. Se você parar pra pensar, elas estavam expostas a muita música boa. Elas sempre se relacionaram com aquilo, porque estavam dançando a noite toda. É como você falou, elas têm ouvido, só precisam entender que também gostam daquilo, sabe? As pessoas subestimam demais seus próprios gostos. Eu sempre digo que não importa o estilo do som, e sim se você gosta. Existem certas amarras quando se fala em estilos musicais, e eu entendo, porque você quer se identificar com algo. Mas, especialmente hoje em dia, que temos acesso a tudo, essas identificações acabam sendo irrelevantes. As pessoas precisam aceitar que são mais ecléticas do que imaginam.

“Até no bom humor dá pra ter uma coisa meio sombria. Pra mim, sempre teve esse balanço entre o que na superfície soa bem-humorado, mas que está tratando de coisas mais sérias. A comédia é isso, basicamente, e pode ser aplicado na música também”

Vocês já apresentaram o 40% em festivais enormes, como o Dekmantel. Mas isso não é o dia a dia, né?
Engraçado você falar isso, porque hoje [no dia da entrevista] acabou de sair um disco do 40%. O dia a dia é bem tranquilo. Nós lançávamos em vinil até o ano passado, mas paramos, porque não fazia mais sentido. Tanto eu quanto o Lucas produzimos muito, temos HDs cheios de músicas. Então temos essa mania de lançar pelo menos um disco por mês. Ainda fazemos CDs. Toda semana vou aos Correios enviá-los para quem compra. O Dekmantel foi meio que uma aberração na nossa linha do tempo, porque, no fundo, lidamos com pouquíssima gente. Com quem gosta e compra os discos. Não sei muito bem mais como funciona métodos de divulgação. Só lançamos e é isso. Em relação a tocar, a gente tinha uns espaços fixos, como a Comuna, o Desvio, o AP. Eu não tocava tanto fora, mas estava nesses lugares toda semana. E, era bom, porque gostava de usá-los como laboratório. Via o que soava bem, mantinha contato com os amigos . Até era chamado para tocar em outras cidades, em festas, mas esse era meu joio. Acho que criava um bom senso de comunidade para mim e para as pessoas mais próximas.

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Esse é o desafio para consolidar a cena de música eletrônica do Rio, ter mais lugares para tocar?
O Rio, de uns dois anos para cá, estava na sua melhor fase. Tinha gente nova entrando, e gente nova é muito mais animada que os mais velhos. Exatamente por essa carência de lugares grandes e fixos, mais corporativos e profissionais, isso causava interesse das pessoas. Não tinha tanto público em São Paulo, mas tinha pessoas mais curiosas. Bem pouquinho antes da pandemia começou uma conversa sobre aumentar a cena, porque os lugares estabelecidos já estavam tento problemas com lotação das festas. Então, acho que o Rio vive/vivia uma grande fase. A questão era se iria crescer.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Você tem vários projetos diferentes, como Brasileiro Garantido, Repetentes 2008, Guerrinha. Como funciona esse processo? Como você escolhe onde entra cada som novo que produz?
[Risos] Cara, essa é a pergunta que me faço todo dia. Eu adorava um selo das antigas, chamado New Groove, que era de dois irmãos. Cada um deles tinha tipo 70 pseudônimos. Quando eu tocava no Dorgas, me lembro que eu tinha problema quando alguém chegava e me dizia que eu era o guitarrista da banda. Você começa a sentir uma certa amarra. Eu sou o cara dessa banda, logo esse é meu som. Quando você tem pseudônimos, é como uma carta branca pra fazer o que quiser, porque não é seu nome que está naquilo. No início, eu até tentava organizar as músicas nos diferentes projetos, mas comecei a produzir tanto que hoje em dia não tem mais uma lei que rege. Agora, a tendência é separar em períodos de composição. Como eu faço tudo muito rápido, aquela sessão é que dá o nome do projeto em que vai ser lançado. Não tem uma divisão do que é mais um gênero ou outro, apesar de terem diferentes entre as coisas.

Quanto tempo você demora pra fazer um som? Dois, três dias?
Não, faço um disco em um dia. Eu assumo que cada coisa vai ter uma fórmula. Então, aplico esse método na produção de todas as faixas. Fica pronto em um dia, mas em um dia muito intenso. Porque, quando você está naquele espírito de compor, isso te toma, e quando vai ver já saíram oito músicas. Nesse sentido, meus discos quase sempre são versões de uma mesma ideia. Sei que tendo a ser meio intenso demais, e deveria ser menos, porque acabo ficando com esse banco de músicas muito grande. Até com o 40% lançando um disco por mês, elas demoram bastante tempo pra sair.

“Faço um disco em um dia. Eu assumo que cada coisa vai ter uma fórmula. Então, aplico esse método na produção de todas as faixas. Fica pronto em um dia, mas em um dia muito intenso. Porque, quando você está naquele espírito de compor, isso te toma”

Você é organizado com isso? Sempre solta os sons na ordem cronológica em que foram compostos?
Às vezes as coisas passam na frente. Hoje saiu um disco com o nome de Dinheiro Infinito Revival, mas durante todo mês passado a ideia era lançar outro, chamado Vamos Desistir? E aí, terminei esses sons e já quis divulgar logo, não pensar mais naquilo. Porque, quando a música vai para meu arquivo, ela fica muito suscetível às minhas segundas opiniões. Tem vezes que não quero passar por isso, e sim lançar no momento em que ainda estou curtindo as produções, enquanto as músicas ainda têm esse aspecto inédito para mim.

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Você tem noção de quantos sons estão guardados aí?
Cerca de 120 músicas. Daria pra lançar um disco de dez músicas pelos próximos doze meses. Esse é meu desafio diário, lembrar que tenho tudo isso pronto.

E você tem uma lista de nomes para esses lançamentos?
Tenho, mas eles mudam com o tempo [risos]. Às vezes acho um nome ruim e jogo fora, outras vezes passo nomes pra frente. Às vezes até misturo. As músicas vivem nessa central de transferências até serem lançadas.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Como surgem os nomes? Você está fazendo compras no mercado e dá um gatilho, do nada?
É meio isso, sim. São coisas que eu percebo no meu cotidiano e tento conceitualizar. Dinheiro Infinito Revival surgiu quando eu estava jogando Sim City e usando o cheat de dinheiro infinito. Só que cada vez que você reinicia o jogo, tem que usar o código de novo. É um conceito meio paradoxal ter dinheiro infinito sempre. Quão estúpido é um nome como Dinheiro Infinito Revival? “Vamos Desistir?” veio de uma coisa meio grupo de jazz dos anos 1980, Vamos Desistir? Group. Porque, imagina um grupo que fosse totalmente pra baixo [risos]. É quase uma pergunta absurda, chegar para alguém ‘pô, vamos desistir?’ em vez de ‘vamos nessa?’ ou ‘vamos fazer isso?’. Acho interessante, diretamente desistente. Tem outro projeto chamado Só Roberto [risos]. É uma lista enorme.

“Acho que, realmente, os paradigmas não vão mudar [com a vacina]. Vai haver um grande alívio, e tudo vai voltar com mais interesse. É aquela coisa de valorizar algo que não era valorizado antes. E se você já valorizava, deve estar completamente deprimido nesse momento”

O que vai ser da cena quando as festas voltarem?
Cara, eu acho que quando a primeira pessoa for vacinada, não precisa necessariamente ser você, já vai causar… É meio engraçado, porque as pessoas estão tendo que lidar com o fato de que isso vai ser muito mais longo do que elas imaginam. Acho que, realmente, os paradigmas não vão mudar. Vai haver um grande alívio, e tudo vai voltar com mais interesse. É aquela coisa de valorizar algo que não era valorizado antes. E se você já valorizava, deve estar completamente deprimido nesse momento. Com certeza, vai voltar muito menor do que estava, mas não consigo ver como uma coisa ruim. Agora, com o dólar nas alturas e sem previsão pra baixar, as coisas vão ser muito menores do que eram. No final das contas, é positivo porque tem muita gente bacana aqui. Pra mim, era doloroso ver a quantidade de respeito que um gringo tinha, enquanto o brasileiro não tinha o mesmo.

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(40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Como tem sido a pandemia pra você? Tem produzido mais sons, né? [risos]
É isso [risos]. Eu voltei a estudar programação, para não ficar só na música. Eu produzi muito no início da pandemia, agora estou mais tranquilo, pegando também uns trabalhos de trilha sonora, que é o que me salva no final do mês. Além disso, eu treino um pouco de videogame com o Rebello, que também lança músicas pelo 40%. Porque fazemos speed run de Super Mario 64. Eu já consegui pegar as 120 estrelas em 7 horas, mas o Rebello consegue em pouco mais de 3 horas. É bem próximo do recorde mundial, que é de uma hora e vinte minutos.

Vocês decoraram o jogo inteiro…
Sim. Não tem mais nenhuma forma de raciocínio lógico. É só o movimento das mãos, a prática de como mover os dedos. Porque você já não exercita a cabeça, sabe exatamente onde estão todas as estrelas. E testar novos caminhos, que podem facilitar o percurso.

Uma coisa é pegar Mario 64, que tem 20 anos, e fazer speed run. Outra coisa é essa galera que pega um jogo lançado ontem e já está zerando o game em 10 minutos. O que você acha disso?
É meio impressionante. Eu fico pensando se não é muito intenso fazer isso com Mario, mas aparecem essas pessoas que pegam jogos recém-lançados pra zerar assim. É uma comunidade muito intensa. Tenho medo de fazer um streaming, porque acho que a primeira coisa errada que eu fizer, alguém vai me xingar, falar que eu sou um merda. Hoje em dia você tem essas crianças de dez anos nerdiando sobre placas de vídeo… É um ambiente muito pesado. Por mais que eu adore jogar, não sou muito fã de participar online. Tentei jogar Fortnite e Free Fire, e por mais divertido que eles sejam, os jogos já estão dominados por gente muito boa. Mas aí tem jogos como Fall Guys, que têm uma física meio ruim, são difíceis de domar. No fundo, acho que toda essa coisa dos jogos online está criando monstros. Não em relação ao videogame, mas na atitude das pessoas com os games. Elas estão ficando obcecadas de uma maneira vil.

guerrinha – o pedigree histórico
guerrinha – o pedigree histórico (40% foda/maneiríssimo/Divulgação)

Pra fechar, diz pra mim cinco coisas que são 40% fodas/maneiríssimas.
Minha carreira: A ideia do nome do selo cada vez faz mais sentido. Porque se fosse 0%, seria mentira. Mas, de fato, nunca chegamos a bater a barreira dos 50%.

A internet e as redes sociais: A maneira que a internet funciona hoje é 40% foda/maneiríssima, porque tinha potencial para muito mais.

Comida: A real é que você tem gente fazendo comida plant based, como a Fazenda Futuro, e ao mesmo tempo é cheio de sódio e química. No fundo, não é tão interessante assim. E, não só isso… As frutas, as coisas que comemos são cheias de agrotóxicas. Você tenta ser e não é, sabe?

Miojo: Por muito tempo fui apaixonado pela história da criação do miojo, por Momofuku Ando. Surgiu no pós-guerra, no Japão, para ser uma comida barata, e que estivesse dentro da cultura dos noodles. Mas, na verdade, o miojo foi lançado caríssimo por questões de tecnologia da época. É um bom caso de algo que era pra ser bem maneiro, mas não foi.

Leonel Brizola: É um ponto mais polêmico. Ele tentou implantar os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), tinha um grande planejamento de desenvolvimento do Rio de Janeiro, e tudo foi por água abaixo quando decidiu apoiar o Fernando Collor. É um bom exemplo de alguém que tentou mas não chegou lá.

Tentei pegar bem amplo porque queria exemplificar bem o sentimento do nosso nome. É um sentimento real, e, no fundo, foi um nome dado em 10 segundos, sabe? Quando chego nos lugares e falo que tenho um selo chamado 40% foda/maneiríssimo, fico com esse sentimento de que vou ter que explicar de novo. Mas faz todo sentido para mim porque sinto exatamente isso. Nós fazemos algo, e não é como se a gente não tivesse alcançado nada, mas, em troca, se você vê a dinâmica e o real alcance do selo, não é tanta coisa. Estamos quase lá, sempre prontos para passar para outro estágio, mas ainda não passamos.

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