
e acordo com o dicionário, “raridade” é um substantivo de múltiplos sentidos. Significa 1. a qualidade do que é raro; 2. algo original; 3. algo que não acontece com frequência. Já o fenômeno “Haridade” abraça mais duas definições: 4. qualidade de quem é humilde e 5. indivíduo que defende o direito de uma infância saudável. As palavras afiadas de suas rimas e as críticas ríspidas que costuram os seus versos exemplificam, em alto e bom som, o artista que Hariel se tornou nesses dez anos de carreira. No entanto, elas estão longe de representar por completo o Mc, nascido da quebrada de Vila Aurora, que hoje desponta como uma das vozes artísticas mais autorais da atualidade.
Em meio a sorrisos e um comportamento brincalhão, Hariel logo evidencia a sua maior qualidade: a humildade. Com jeito de moleque, a estrela do funk recebeu mais de 243 milhões de visualizações apenas nos clipes lançados a partir de outubro do ano passado e, mesmo com apenas 23 anos, já acumula hits e parcerias de sucesso, com nomes como Negra Li, Alok, Djonga, Sabotage e MC Don Juan.
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Membro do GR6 Explode, a maior plataforma do ritmo de funk no mundo, com mais 290 artistas agenciados e 400 colaboradores, Hariel também emprega diretamente em sua equipe 22 pessoas. Fã de MPB e Bossa Nova, o cantor altera entre canções festivas e letras que se assemelham muito ao rap, no que ele denomina funk consciente.
No entanto, a característica que mais o distingue dos outros artistas do momento é uma bandeira que ele orgulhosamente e publicamente levanta: a da proteção à infância. O funkeiro explica que essa ânsia por ajudar a garotada começou no momento em que percebeu o descaso pela infância no lugar onde cresceu.
“Depois que eu cresci, vi que ali onde eu morava havia poucas oportunidades para as crianças se encaminharem”, explica Hariel, “Eu já tinha uma brisa de que, quando eu estourasse, traria uns MCs para perto, faria shows nem que fosse só no Dia das Crianças, nem que fosse só às vezes”.
“Depois que eu cresci, vi que ali onde eu morava havia poucas oportunidades para as crianças se encaminharem. Eu já tinha uma brisa de que, quando eu estourasse, traria uns MCs para perto”

Hariel conta que em São Paulo, assim como em outros lugares no Brasil, o “incentivo” ao esporte é a construção de um campinho que posteriormente é negligenciado pelo poder público. Já na cultura, há a forte marginalização da produção artística proveniente do povo. “Quando a criança se interessa por algum tipo de cultura, falam que aquilo não é cultura, marginalizam ela. Colocam o que a criança está aprendendo como errado”, explicou Hariel. “Depois que crescemos, nós vemos que não há só um caminho que vai dar certo, há milhares de caminhos. Falta que o sistema, ao meu ver, incentive as pessoas a pensarem; eles não querem que as pessoas pensem, só que sejam bonecos.”
Anualmente, na Vila Aurora, onde o cantor cresceu, há a Festa do Dia das Crianças, que reúne diversos artistas para uma série de shows aberta ao público. Além das apresentações dos MCs, há também a realização de peças de teatro e outras formas de entretenimentos, os quais, segundo o próprio Hariel, não são de fácil acesso para a juventude da comunidade durante o ano.
Se dedicar fortemente e com modéstia em sua profissão já rendeu – e está rendendo – a Hariel grandes frutos. Entre goles de um energético e abocanhadas em um lanche, Hariel se orgulha em contar que o convite para todas as parcerias que ele faz sempre parte dos outros artistas para ele. “Eu procuro ser visto como um cara que respeita todo mundo. Que faz um funk da hora e, além disso, é uma pessoa boa. Eu sei que isso abre portas e te dá a chave para tu por no bolso, tá ligado?”, explica o compositor.
O MC também conta uma condição importante, mas não surpreendente vindo dele, que usa para filtrar as suas parcerias: a humildade. Hariel foi categórico em dizer que não quer nem chegar perto daqueles que não possuem esse valor moral em si.
“Há muitos artistas que são muito bons, mas não sabem como tratar uma pessoa”, conta o compositor, “A gente sabe quem vive numa caixinha da música, quem acha que é sucesso, e quem é mesma fita, então se for mesma fita, a música vai sair com certeza”.