
ma imagem de Keanu Reeves com sorriso meio canastrão segurando um CD dourado simboliza o ápice de um hype. O ator estava caracterizado como Johnny Silverhand, um rockstar com um braço de metal da fictícia e distópica Night City. Era começo de outubro.
Ele é o principal destaque do elenco do game Cyberpunk 2077. Foi o garoto-propaganda do anúncio de que o jogo tinha “ido a gold”, o que no jargão quer dizer finalizado. A espera de oito anos, acompanhada trailer a trailer pelos jogadores, com cobertura ostensiva e laudatória da mídia especializada, seria finalmente encerrada no dia 19 de novembro.
No final do mesmo mês, porém, houve um freio no trem do hype. A CD Projekt Red, desenvolvedora por trás de Cyberpunk 2077, divulgou uma carta anunciando que o lançamento seria postergado em três semanas, para o dia 10 de dezembro (no Brasil, por questão de fuso horário, na noite de 9 de dezembro). “Precisamos ter certeza de que tudo funciona bem e que todas as versões rodem perfeitamente”, escreveram Marcin Iwiński e Adam Badowski, CEOs da empresa avaliada em US$ 6,7 bilhões. Era o terceiro atraso.
A postagem com fonte preta e fundo amarelo pantone 3945C, dentro da identidade visual adotada pelo marketing de CP 2077, foi recebida como um sinal de alto padrão de qualidade.
Até a Prefeitura de São Paulo entrou na onda e comemorou um mural de Cyberpunk 2077 na empena de um prédio. Desde 2006, o município tem a Lei Cidade Limpa, que limita publicidade na paisagem urbana e proíbe peças publicitárias em espaços públicos.
MURAL Cyberpunk Brasil! Robot face #SP2077 #Ciberpunk2077 #XboxGamePass pic.twitter.com/XbEbVCvEw7
— ᴄʏʙᴇʀᴘᴜɴᴋ ʙʀᴀꜱɪʟ (@cyberpunkbr2077) December 11, 2020
O clima era distendido. A companhia amealhou 8 milhões de votos de confiança representados como encomendas de pré-lançamento – 61% para computadores, recorde histórico. A estimativa dá conta de uma receita bruta de cerca de meio bilhão de dólares. No Brasil, custa R$ 200 nos computadores e R$ 250 nos consoles.
Esse era o pano de fundo do maior desastre videogamístico deste século. O jogo foi lançado em um estado lastimável, virtualmente injogável em certas plataformas. Repleto de erros, fica difícil distinguir o que é bug, falta de polimento, falta de acabamento, e o que é indubitavelmente ruim. Problemas de detecção de colisão, inteligência artificial, física, gráficos, arquivos de salvamento… a lista é extensa, alguns ridicularizam a narrativa e ambientação.
É o Fyre Festival dos videogames. Um fiasco que evidencia vícios e armadilhas das grandes produções de games (AAA no jargão). O retrospecto mostra que Cyberpunk 2077 jamais conseguiria atender às expectativas.