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Do baú do Boogarins

A elogiada banda de Goiânia volta com novo disco, Manchaca, o primeiro de dois volumes em que revira seus arquivos de gravações inéditas

por Bruna Bittencourt 28 ago 2020 02h27
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(Clube Lambada/Ilustração)

Eu brincava com os meninos que via mais eles do que meu reflexo. Desde 2014, a gente vem de um monte de tour, de não sair do lado do outro. Aí, deu esse breque maluco”, conta Dinho Almeida, vocalista do Boogarins. Depois de quatro meses separados pela pandemia, os integrantes da banda se reuniram para tocar em uma live no início deste mês. “A gente nunca tinha ficado tanto tempo longe do outro. Mas foi muito bom este reencontro, deu um quente nas ideias. Foi mágico.”

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(Dylan O´Connor/Divulgação)

Ainda que afastados fisicamente, a banda de Goiânia – talvez a mais internacional da cena indie brasileira, com longas turnês fora do país, apresentações no Coachella (EUA), no Primavera Sound e na Radio 6, da BBC, além de elogios do The New York Times no currículo – não ficou parada nestes meses de quarentena. Dinho e o baixista Raphael Vaz fizeram lives para o Festival dos Festivais e para o No Ar Coquetel Molotov, do estúdio que montaram na garagem da casa que dividem há quatro meses em São Paulo, desde que o vocalista se mudou de Goiânia. “Me perguntaram outro dia: ‘Vocês estão gostando de fazer lives?’. Gostar, eu gosto é de fazer show [risos]. Mas a gente vai fazendo o que tem.” Por conta da pandemia, a banda, que também conta o guitarrista Benke Ferraz e o baterista e Ynaiã Benthroldo, teve uma turnê cancelada na Europa, enquanto outra pelos EUA começava a ganhar forma. “Seria a sexta vez que a gente faria uma tour assim [pelos EUA]. Não tinha uma ansiedade, mas a gente fica triste por não conseguir fazer o trabalho.”

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“Me perguntaram outro dia: ‘Vocês estão gostando de fazer lives?’. Gostar, eu gosto é de fazer show [risos]. Mas a gente vai fazendo o que tem”

Dinho Almeida
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(Ann Alva Wieding/Divulgação)

Além das lives, a banda criou uma “missa dominical’’ para os fãs mais que fiéis do grupo (há um grupo de WhatsApp com admiradores do Boogarins do Brasil inteiro). Todo domingo de manhã, soltam um link no Instagram com um vídeo, um áudio de show antigo, uma gravação que nunca ninguém ouviu. “Essa não possibilidade de fazer show fecha uma porta, mas dá para fazer uns trens, vamos tentando do melhor jeito.” Também criaram o “Memórias de um jovem velho”, uma conversa em vídeo entre os quatro integrantes, em que eles resgatam o que a banda estava fazendo naquele dia, mas em outro ano. “Faz parte deste mesmo processo de olhar, de ouvir gravação. A gente tem muito show ao vivo guardado.” 

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Seguindo essa toada, lançam, nesta sexta-feira, 28, Manchaca, o primeiro de dois álbuns que reúne demos e faixas que acabaram não entrando em seus últimos trabalhos, Lá vem a morte (2017) e Sombrou dúvida (2019). O álbum começou a ganhar forma ainda no fim do ano passado. “A gente já estava querendo amarrar essa história e, quando veio a pandemia, falamos ‘vamos mais fundo, vamos fazer dois logo’.”

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(Valéria Pacheco/Divulgação)

Manchaca toma emprestado o nome da rua onde eles passaram longas temporadas em Austin (EUA). Foi na capital texana que a banda fez seu primeiro show fora do Brasil, no South by Southwest, em 2014, ano que fizeram mais de cem apresentações nos Estados Unidos e na Europa. “Austin acabou virando nossa base, a cidade que a gente mais passou tempo fora de casa.” Os amigos que os receberam no Texas acabaram se tornando managers da banda nos EUA e criaram um selo para lançar os discos da banda no país. 

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(Dylan O´Connor/Divulgação)

O Boogarins voltou a Austin, onde se apresentou mais de 40 vezes, em 2016, 2017 e 2018, período em que gravou seus dois últimos álbuns. “Ficou muita coisa de fora, muito pedaço de canção, porque nós somos uns malucos que gravam muita coisa. E agora a gente está colocando essa material para todo mundo ouvir”, conta Dinho. “Essa seleção foi difícil, mas, ao mesmo tempo, não foi, porque tem muito material bom que a gente não lançou… Não são sobras, são músicas do mesmo nível dos discos, mas que a gente achou que não se encaixavam ali. A gente viu que poderia lançar depois, só não imaginávamos que fossem ser dois volumes. Foi difícil fazer um só.” 

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“Não são sobras, são músicas do mesmo nível dos discos, mas que a gente achou que não se encaixavam ali”

Dinho Almeida
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(Dylan O´Connor/Divulgação)

E fica claro em Manchaca o diálogo com os dois discos, com uma dose ainda maior de experimentalismo. O álbum, que divide com os fãs o processo criativo do grupo, entre demos e improvisações, também preenche uma lacuna para Dinho. O álbum também preenche uma lacuna para Dinho. “Tem muita gente que não entende como uma banda que tem os dois primeiros discos como As plantas que curam [2013] e Manual [2015], que são de canções mais calmas, lança esses outros dois discos [Lá vem a morte e Sombrou dúvida]. O Manchaca é muito sobre contar essas histórias dessas gravações, desse período nosso de experimentação”, diz. Os shows vão ter que esperar um pouco. “Para a gente, cabe paciência nesse momento, brincar com as ferramentas que tornam essa experiência minimamente possível, que é o que está dando para fazer. Na hora da vacina, da volta, de show lotado, vai ser uma loucura.”

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Dinho preparou uma playlist exclusiva para a Elástica: “Uma hora de música em nome da saudade de estar junto dos meus amigos. Entre sons que ouvíamos na van, participações com outros artistas e uns trens que eu tenho ouvido e queria colocar na van agora pra eles ouvirem antes da gente chegar na próxima cidade e fazer um showzão emocionado com meus amigos.”

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(Boogarins/Divulgação)

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