rasil. O ano é 2020 e começou cheio de promessas. Era ano de Olimpíadas, tivemos recordes de gente na rua nos Carnavais todo e anseávamos por uma nova eleição em que pudéssemos, mais uma vez, juntar forças para melhorar o país – cada um a seu jeito e dentro de suas crenças, que fique claro. Mas, em março, o Brasil parou, o mundo também, e toda nossa concepção de futuro foi colocada em pausa. Ou melhor: foi estraçalhada com uma marreta e cada caco desse esperado futuro foi enviado para uma região diferente do universo. Se a descrição te parece dramática demais, eu… não vou pedir desculpas. Porque sei que é dessa forma que muitas pessoas se sentem, este que vos fala incluso.
Fato é que, em meio ao caos da pandemia do novo coronavírus e as mais de 150 mil mortes que tivemos só no Brasil, ainda tem muita gente pensando sobre o amanhã, sabendo que ele vai chegar e que, quando isso acontecer, temos que estar preparados para não repetir os mesmos erros de antes. André Carvalhal, escritor e consultor, faz parte desse time. Em seu novo livro, Como salvar o futuro? (Cia. das Letras), André se debruça sobre a pergunta que mais nos fizemos nos últimos meses e arrisca, com base em estudos, pesquisas, entrevistas e uma boa dose de conhecimento, a propor caminhos para o futuro em diferentes áreas.
“O futuro sempre foi vendido para nós como algo muito legal, desde Os Jetsons, numa realidade parecida com a que a gente vive agora. Foi a previsão mais otimista que tivemos, talvez por isso essa ilusão de que tudo ia dar certo no futuro. Agora, a nossa geração chegou neste futuro e viu que ele é uma bomba prestes a explodir: polarização de todo lado, críticas, crise em todas as áreas da nossa vida. Não dá mais para achar que vivemos uma crise econômica. Ela é também política, moral, ética, da família. Mais do que nunca, estamos nos dando conta de que tudo é muito sistêmico e entrelaçado”, explica André. “O futuro é uma ilusão, é a gente que o constrói com as nossas ações. Chegamos nessa situação limite por conta do que a gente vinha fazendo. E não estou falando sobre culpabilizar as pessoas. Quando eu falo ‘a gente’, é sobre todas as pessoas, e isso inclui os empresários, os políticos, os donos de empresa.”
Fica um tanto quanto incoerente, neste caso, pensar em salvar o futuro sem olhar para as atitudes do presente. Se a conclusão parece óbvia, é porque ela é mesmo – o que não significa, de jeito nenhum, que as pessoas já entenderam isso. “Já tivemos guerras, pandemias, acidentes e crimes ambientais. De alguma forma, a gente superou tudo isso. O futuro vai se construindo e desconstruindo a todo momento. Agora, é a hora da gente construir ou desconstruir o futuro próximo”, completa.
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Um dos exemplos de mudança que o novo livro de André traz está estampado em todas as páginas: a linguagem. Em um momento no qual debatemos tanto sobre machismo, patriarcado e manutenção de estruturas de poder que excluem boa parte da sociedade, a língua portuguesa também não foi poupada, já que todas as generalizações, para nós brasileiros, são feitas no masculino. Em resposta a isso, André traz uma linguagem o mais neutra possível, substituindo alguns plurais no masculino usando a letra E e também reescrevendo frases para reforçar a individualidade de cada um e, assim, conscientizar cada leitor sobre sua responsabilidade. Ou seja: onde se leria “todo mundo” ou “todos” em outros livros, neste se lerá “todes” ou “todas as pessoas”.
André bateu um papo com Elástica direto da zona norte do Rio de Janeiro, onde continua isolado e respeitando o distanciamento, para falar como podemos salvar o futuro – ou pelo menos mudar nossas atitudes presentes para melhorá-lo – em diversos aspectos. O resultado você confere aqui embaixo.