
calor de fevereiro não permite muita roupa no corpo, mas isso não impede que foliões exagerem na montação quando o assunto é Carnaval. Festa de caracterização das mais exóticas, os dias que antecedem a quarta-feira de cinzas são os preferidos de Alexia Hentsch – e também boa parte do seu ganha-pão. Quando os blocos estão nas ruas e o samba se torna a língua universal do povo, a artista se lembra que aqui é o seu país. Hoje, ela é responsável por disputados e exóticos acessórios para fantasias das classes artísticas e da alta sociedade carioca, e também por coleções de moda que lembram tempos que não voltam mais.
Brasileira filha de pai suíço, ela viveu no abastado país europeu toda sua juventude, mas vinha sempre visitar a família no Rio de Janeiro durante as festas de final de ano. Pode-se dizer que teve uma infância como a de muitos de nós, assistindo Xou da Xuxa e lendo gibis da Turma da Mônica. Sua mãe, ela lembra, dava a ela e à sua irmã aulas de samba em casa.

De lá, Alexia assistia a um Brasil fascinante, que saía da ditadura e começava a encontrar seus caminhos em meio à liberdade. Ano após ano, esperava ansiosa o verão, o momento em que voltaria para sua terra natal, para depois voltar para seu cotidiano na Suíça. “Crescemos falando português em casa e, quando eu vinha para o Brasil, comprava aqueles biquínis bem cavados para trazer de volta para a Europa”, ela conta. “Isso fazia eu me sentir a maior gata!”
“Eu já conhecia bastante do Rio, mas essa imersão como moradora mesmo foi só naquele ano. Me amarrei e, desde então, metade do meu ano de trabalho acontece aqui”
Alexia Hentsch
O olhar sensível e a busca pelo belo levaram Alexia a estudar Desenho Gráfico nos Estados Unidos, profissão que a levou para a moda. Na época da faculdade, sua relação com o Brasil aumentou. Seus pais se separaram e sua mãe voltou para o Rio, onde a garota passaria um tempo ainda maior. “A primeira vez que passei um Carnaval aqui eu tinha uns 20 anos, desfilei na Mangueira, e a escola de samba ganhou. Me tornei mangueirense de coração”, ela lembra. “Hoje, me arrependo de, quando terminei a faculdade, não ter vindo para o Brasil para trabalhar em uma escola de samba por um ano. Ainda hoje é um sonho fazer um Carnaval de avenida.” A carreira distanciou Alexia da sua paixão e de seu país. Por uma década, ela trabalhou com moda masculina em uma marca própria, que fazia desde jeans e camisetas até camisas e ternos, em Londres. “É um espaço em que a criatividade floresce mais no marketing, porque não há muito para onde correr em termos de design.”

Foi na Inglaterra que conheceu a equipe da Film Master Group, empresa italiana especializada na realização de grandes eventos mundiais que havia ganho a concessão para cuidar das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. “Vieram 400 pessoas da Itália para trabalhar e eles precisavam de uma pessoa para fazer a ponte com os brasileiros. Foi assim que entrei para a equipe de produção dos figurinos e que vim morar de fato no Brasil pela primeira vez. Eu já conhecia bastante do Rio, mas essa imersão como moradora mesmo foi só naquele ano. Me amarrei e, desde então, metade do meu ano de trabalho acontece aqui.”